Um caso de injúria racial registrado em uma igreja evangélica da cidade de Araras, interior de São Paulo, tem repercutido após uma mulher negra, intérprete de Libras, denunciar o pastor Durvalino Brocanelli por falas ofensivas durante um culto religioso. O episódio ocorreu em 2024, na Igreja do Evangelho Quadrangular, durante as celebrações das 10h e, posteriormente, das 19h do mesmo dia.

Segundo relato da vítima, que atuava como intérprete de Libras na cerimônia matutina, ela realizava a gravação do culto enquanto trabalhava, quando o pastor iniciou a apresentação de pré-candidatos a vereador simpáticos à igreja. A filha do pastor, ao perceber a gravação, demonstrou incômodo, o que levou a intérprete a interromper a gravação.

No entanto, à noite, durante outro culto, o pastor Brocanelli, sem mencionar nomes diretamente, teria se referido a ela de forma pejorativa. O momento foi registrado por uma terceira pessoa presente no local. Em sua fala, o pastor a chamou de “escurinha”, "sem vergonha" e “safada”, o que, segundo a vítima, foi uma clara alusão à sua cor de pele e um ataque à sua honra.

“Foi constrangedor e humilhante. Me senti atingida como mulher, como profissional e, principalmente, como pessoa negra. Aquilo não foi uma brincadeira, foi violência”, declarou a intérprete em depoimento à polícia.
O Ministério Público de São Paulo ofereceu denúncia contra o pastor, que agora responde criminalmente por injúria racial. A defesa do pastor argumentou que o pastor costuma usar apelidos como “loirinha” e “branquinha” para se referir às pessoas da congregação, e que ao dizer “sem vergonha e safada”, fazia referência à conduta de alguém que estaria gravando o culto de forma inapropriada.

A filha do pastor também se manifestou, afirmando que as falas do pai foram tiradas de contexto e disse que a vítima estava tentando privilegiar um grupo político. O advogado da vítima, por sua vez, sustenta que a fala teve endereço certo. “Ela é a única intérprete de Libras negra que atua naquela igreja. Quando ele diz ‘a intérprete de Libras’, todos ali sabiam a quem ele se referia. O tom e os termos usados deixam claro o caráter discriminatório da fala”, afirmou.

O caso segue em investigação e o processo tramita na Justiça. A Delegacia de Polícia Civil de Araras já colheu depoimentos e analisa o material audiovisual entregue como prova. Se condenado, o pastor poderá responder por injúria racial, crime previsto no artigo 140, §3º do Código Penal, cuja pena pode chegar a três anos de reclusão, além de multa. O caso reacende o debate sobre racismo em ambientes religiosos e o uso de púlpitos para manifestações discriminatórias.


Ouça o áudio da fala do pastor abaixo: 


Deixe seu Comentário